quarta-feira, 29 de abril de 2009

O que diria Nelson Rodrigues?



Ah, as mulheres Rodriguianas com suas frases que traduziam
toda a podridão escondida, velada e ordinariamente reprimida
por pais hipócritas, maridos machistas e a porca regra do
"conserve sua pureza, mesmo que isto lhe custe toda a sujeira
das sarjetas imundas da Alma!"
Nelson debulhava todas essas hipocrisias em suas frases
e histórias, descarando padres tarados, pedófilos,
desencarnando a falsa santidade das esposas mal amadas,
arrastando na lama a LAMA que pode ser o "SER" humano...
Saudades de Nelson Rodrigues...o que diria ele, se vivo fosse ainda,
da triste realidade que vive o homem agora?
Quando políticos, não têm nenhum escrúpulo, ladrões
de dinheiro e de almas...arrebanhando ovelhas,
jogam-nas aos porcos para que as fecundem,
gerando assim mais e mais ratos corruptos!
Estamos podres!
Apontamos os erros alheios cometendo os nossos
no dia a dia de nossa escuridão.
Estamos velhos!
Ainda conservamos valores e mentiras,
os mesmos que, um dia, abominamos em nossos pais!
Estamos perdidos!
e o caminho que seguimos está cheio de lixo
e vermes que se alimentam de crianças.
Estamos pobres!
Jogamos nosso dinheiro em carros e roupas caras,
para esconder nossa falta de auto estima e auto confiança.
Estamos tristes!
Terapeutas, pastores, falsos profetas, igrejas e médicos canalhas
enriquecem com soluções mentirosas para a nossa salvação!
Estamos burros!
Ouvimos música de baixo nível, lemos e engolimos restos,
enaltecendo a ignorância e cultuando deuses de barro...
Estamos sós, estamos cegos.
Pobres mendigos
chafurdando na sarjeta de nossa própria obra inacabada!
Pensando bem... melhor deixar o Nelson onde ele está,
porque assim não corremos o risco de nos macular os sentidos
quando ele berrasse as verdades de nossa incontestável fragilidade
diante dos demônios que nós mesmos criamos e que agora,
assustados, não conseguimos enfrentar!!!

Olívia Ventura.


terça-feira, 28 de abril de 2009


A noite veio, mãe!
e quando a porta se abriu,
já mudadas as coisas,
adiante a vida ia.
Da vidraça, então, eu vi
entre os reflexos do fogo que ardia,
minhas palavras, meus segredos,
minhas dores e delícias...
tudo se queimando,
soprando cinzas ao crepitar das chamas!
Você leu, mãe, mas não me viu,
muito menos ouviu meu coração
tão apertado ele estava, mãe!
Você nunca me falou das flores,
não me mostrou escolhas,
nem me apontou a estrada.
Quando tomei um rumo,
não me olhou pela janela.
E quando,
já mudada a vida
e adiante as coisas iam...
também você se foi!
Difícil, para você, o Amor,
difícil o Amor para mim...
Hoje já é o seu amanhã,
vejo seu rosto na janela agora
entre cinzas, segredos e palavras,
que o vento insiste em açoitar...
palavras minhas, mãe,
que sussurro como prece ao seu silêncio!

Olívia Ventura